Este texto, provavelmente, não vai ser lido por nenhum gari, mas por quem vê o gari varrendo a rua, dançando na avenida suja e vazia de sonhos, conversando com o vigilante, cumprimentando o pessoal que caminha de manhã cedo, almoçando sentado na sarjeta, descansando deitado no chão, recolhendo o lixo, enfrentando as folhas grudadas pela chuva, discutindo com o vento que o provoca, levando a vassoura nas mãos calejadíssimas, tomando sol, pegando garoa, usando capinha de plástico para se proteger do chuvaréu, aceitando café de algumas boas almas, pedindo água da torneira do quintal para beber e lavar o rosto suado, endireitando o boné para fazer uma sombrinha, entregando cartãozinho no Natal para pedir uma caixinha extra, fazendo barulho com o carrinho na hora em que muita gente ainda está dormindo.
Neste dia que os garis, talvez, nem saibam que seja deles, nós poderíamos fazer alguma coisa:
- ver o gari como gente e como trabalhador;
- ver o gari que limpa nossa rua e dar-lhe bom dia;
- oferecer-lhe café com leite ou guaraná gelado;
- não jogar lixo no chão e ensinar as crianças a não fazê-lo também;
- ser mais solidário e fraterno e não nos esquecer de que lemos este texto.
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