terça-feira, 27 de agosto de 2013

Médicos estrangeiros têm primeiro encontro do treinamento

Nas próximas três semanas, eles terão treinamento sobre a saúde da população brasileira, legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) e Língua Portuguesa


O espanhol Miguel Orte veio porque adora a Bahia; o angolano naturalizado português Francisco Manoel quer ajudar, assim como a maioria dos cubanos. Com motivações diversas, 63 médicos de diversas nacionalidades se reuniram ontem de manhã no encontro de boas-vindas do Programa Mais Médicos, com o secretário estadual de saúde, Jorge Solla, no auditório do Banco do Brasil, na Piedade.
Organizados a partir de pulseiras com cores da bandeira brasileira, os profissionais estrangeiros passaram o dia na agência, onde foram atendidos pela Polícia Federal para a retirada de documentos e abertura de  conta bancária. Nas próximas três semanas, eles terão treinamento sobre a saúde da população brasileira, legislação do Sistema Único de Saúde (SUS) e Língua Portuguesa. O período, de 120 horas, divididas em oito horas por dia, também inclui uma avaliação sobre o conteúdo.

A língua foi assunto abordado pelo ministro Alexandre Padilha, que também deu boas-vindas aos profissionais que chegaram em Brasília. “Não sintam vergonha de não saber falar português. Eu já atendi a vários povos de comunidades indígenas sem falar a língua deles. Salvei vidas”, disse, em um auditório da Universidade de Brasília. Ao todo,  400 médicos cubanos e outros 282 profissionais formados no exterior começaram o treinamento em oito capitais. 

Em Salvador, a médica cubana Ivett Piloto Lopez, 44 anos, afirmou que um mês será suficiente para o domínio da língua. Ela garante que já trabalhou em condições de trabalho precárias, como na Venezuela, Bolívia, Angola e Gâmbia. “A gente trabalha em qualquer lugar. Já trabalhei em 69 países, tenho 21 anos de experiência”, contou. Para ela,  o programa é muito bom para o Brasil. “Viemos para ajudar, pela solidariedade”, ressaltou.

A vontade de ajudar também trouxe o angolano naturalizado português Francisco Manoel Pegado, 58, que já procurou informações sobre as patologias recorrentes na população brasileira, como pressão e colesterol altos e cardiopatias. Segundo ele, são doenças relacionadas com hábitos alimentares, similares ao de seu país de origem, e que podem ser prevenidas com educação e medicina preventiva. 

Apesar da familiaridade com a música brasileira – de Alcione a Preta Gil - Francisco ainda não conhece as belezas naturais pessoalmente. “Pesquisei no Youtube e Google as imagens, quero conhecer tudo, mas, primeiro, o foco é o trabalho”, contou. 

A esposa, os três filhos e a neta estão em Portugal, mas por enquanto não devem vir. “Se eu tiver condições pretendo trazê-los, mas o primeiro momento não é fácil. Meus filhos já trabalham”, explicou.

Inicialmente, Francisco pretende ficar apenas pelos três anos previstos pelo programa, que podem ser prorrogados por mais três.  “Tenho serviço garantido no meu país, mas, se o Brasil estiver precisando, fico”, declarou o médico que disse não se preocupar com a comunicação. “Falo bem o brasileiro”, afirmou.
 sonho Trabalhar no Brasil não foi uma coisa planejada pelo espanhol Miguel Orte, 54. Após dez dias de férias em Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador, o médico se apaixonou pelo local e se inscreveu para o programa na cidade, onde vai atuar. 

É a primeira vez que ele vai exercer a medicina fora da Espanha e aponta as condições de atendimento como principal diferença – positiva. “Lá, o máximo é cinco minutos por paciente. Acho que aqui vou demorar mais”. Miguel pretende fixar residência.  “Vou trazer minha casa para cá, meu filho foi buscar tudo”. Para ficar no país, terá que fazer o Revalida, exame para validação do diploma, dispensado para os profissionais do Mais Médicos. Encantado com o estado, Miguel reclama de uma coisa. “O trânsito é  estressante”.

Reação
Segundo Jorge Solla, a necessidade da mão de obra externa não está vinculada à falta de profissionais locais, mas ao crescimento da demanda. “Os médicos não sumiram. O sistema de saúde se agigantou, tem postos equipados, mas sem médicos”, explica. Ele também preveniu os profissionais sobre possíveis críticas ao programa. “Existe uma militância, uma resistência da categoria que dificulta o aumento de vagas nas faculdades”, pontuou.

Para Francisco, a reação dos médicos brasileiros é normal. “Isso é um problema interno, quem se beneficia são os próprios médicos, o povo. Temos uma atitude nobre”, opinou. 

A cubana Deyanira Michek Sabala, de 44 anos, conta que já atuou em países como Venezuela e Bolívia. No primeiro, integrou o programa Missão Bairro Adentro, que se dedicava ao atendimento das populações de classe baixa. Na Bolívia, era responsável por atender a população indígena. “Fui recebida muito bem nos outros países e espero que o povo brasileiro nos queira”.

Crítica
Na avaliação do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), o aumento no número de médicos não vai implicar na melhoria da saúde. “Há uma má distribuição. O Brasil precisa de planejamento e políticas na área de Saúde”, pontua o conselheiro do Cremeb Otávio Marambaia, que exclui a necessidade de um aumento nas vagas de Medicina. “O Brasil só perde em número de faculdade para a Índia”.

Para ele, o idioma é obstáculo difícil. “Eles devem ser gênios para aprender uma língua em três semanas. Quero ver traduzir o baianês do interior”, questionou. 

Estrangeiros começam a trabalhar no próximo dia 16
Os médicos estrangeiros serão avaliados por professores de instituições públicas e os que forem considerados aptos receberão um registro profissional provisório para começar a trabalhar no município que for determinado, a partir de 16 de setembro.  Os que não forem bem avaliados retornarão aos seus países de origem. Eles terão uma carga horária de 40 horas semanais. 

Hospedagem e alimentação serão subsidiadas pela prefeitura onde serão alocados. Esse subsídio poderá ser em espécie ou através da disponibilização de um imóvel. No caso de Salvador, a ajuda de custo será em dinheiro, R$ 1.200 para moradia e R$ 370 para alimentação. Além disso, os profissionais receberão uma bolsa de implantação para se instalar no país, que pode variar de R$ 10 mil a R$ 30 mil. 

O salário mensal será de R$ 10 mil líquidos. No caso cubano, o dinheiro não será pago diretamente aos profissionais, mas à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que por sua vez repassará o valor. Os médicos não poderão atuar fora do programa. Sobre o trabalho nos municípios mais pobres, o secretário de saúde do estado, Jorge Solla, afirma que haverá uma surpresa. “Eles vão encontrar boas condições, todos tem Samu e laboratórios computadorizados”, pontuou.
  fonte:correio24horas.com.br

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